A menos de seis meses das eleições americanas, o presidente Barack Obama assumiu um risco calculado ao apoiar o casamento gay, durante uma entrevista televisiva na quarta-feira. Por um lado, o líder em campanha pela reeleição
pode perder popularidade entre eleitores mais conservadores. Por outro,
abre a possibilidade de reenergizar sua base de militantes e doadores
que estava frustrada com a falta de clareza do presidente nesse assunto.
Obama tornou-se o primeiro presidente americano a assumir tal posição publicamente um dia depois de a Carolina do Norte,
um Estado crucial para sua vitória na eleição de novembro, aprovar uma
emenda constitucional que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo
– uma medida que também foi vetada em outros 30 Estados.
Mas se a declaração do líder pode custar votos de conservadores, seu
silêncio sobre o assunto também poderia lhe dar uma imagem de “político
calculista e tímido”, de acordo com o jornal americano The New York
Times. Segundo a publicação, muitos integrantes do Partido Democrata, o
mesmo de Obama, acreditavam que tal imagem não estaria de acordo com o
homem que em 2008 se tornou o primeiro presidente negro dos Estados
Unidos.
Obama enfrentava crescente pressão para se posicionar sobre o tema, depois de seu vice-presidente
e seu secretário de Educação terem se declarado favoráveis às uniões
entre pessoas do mesmo sexo. Em 2008, ainda como o candidato democrata à
presidência, Obama disse que apoiava a união civil entre pessoas do
mesmo sexo, mas não o casamento. No entanto, no final de 2010 Obama
comentou que sua postura sobre o tema "estava evoluindo", o que frustrou militantes gays.
Obama disse à jornalista Robin Roberts, da rede ABC, que resolveu
assumir sua posição depois de notar que membros gays de sua própria
equipe eram "incrivelmente comprometidos com relacionamentos monógamos
do mesmo sexo e que estão criando suas crianças juntos" e de pensar
"naqueles soldados, ou aviadores, ou fuzileiros navais, ou marinheiros
que estão lutando por mim, e apesar disso se sentem constrangidos".
"No fim, o que mais nos importa (a ele e à esposa, Michelle Obama) é a
forma como tratamos as pessoas. Somos ambos cristãos praticantes e
obviamente esta posição pode ser considerada como contrária à visão de
outros”, afirmou. “Mas quando pensamos na nossa fé, o que está na raiz
não é apenas Cristo se sacrificando por nós, mas a regra de ouro, sabe,
trate os outros como quer ser tratado".
Impacto
Analistas ainda tentam avaliar o impacto da declaração na campanha de
Obama. Um especialista republicano citado pela analista de política da
rede ABC, Amy Walter, disse que "os eleitores que são fortemente contra o
casamento gay - ou seja, que deixariam a opinião de um candidato sobre
esse assunto determinar o seu voto - já não votariam pelo presidente de
qualquer maneira".
Para Justin Ruben, diretor-executivo da organização Move On, que faz
campanha pelos direitos civis e pelo Partido Democrata, "o apoio do
presidente para a igualdade no casamento é uma grande notícia, que deve
energizar os ativistas progressistas em todo o país".
O analista de política e autor do blog The Fix, do Washington Post,
Chris Cillizza, apontou que "a base LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e
transexuais) não apenas é uma grande parte da base democrata, como
compreende algumas das pessoas mais politicamente ativas do partido".
Além disso, disse, "não é segredo para ninguém que, para vencer, o
presidente Obama precisa de um apoio muito consolidado entre as pessoas
entre 18 e 29 anos de idade - o grupo que mais apoia o casamento gay".
Análises dos financiamentos da campanha de Obama já mostraram que o
candidato, além de ser movido pelas pequenas doações (abaixo de US$
200), também recebe um de cada seis dólares que vão para o seu caixa de
doadores homossexuais.
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